Pouco depois do meio-dia, no dia do Natal de 2024, os funcionários da empresa finlandesa de eletricidade Fingrid notaram que o principal cabo submarino que liga a Finlândia à Estônia estava danificado, reduzindo significativamente o fornecimento de energia a este último país.
Naquela tarde, o gerente de operações da Fingrid, Arto Pahkin, foi citado pela emissora nacional da Finlândia como tendo dito: "Temos várias linhas de investigação, desde sabotagem até uma falha técnica, e nada foi descartado ainda. Pelo menos duas embarcações estavam se movendo perto do cabo no momento do incidente".
Horas depois, uma equipe da guarda costeira finlandesa abordou o navio russo Eagle S, e o conduziu para águas finlandesas. Acredita-se que ele tenha danificado deliberadamente o principal cabo de energia, o Estlink 2.
A União Europeia afirma que a embarcação, registrada nas Ilhas Cook, é, na verdade, parte da "frota fantasma" da Rússia. Suspeita-se que o antigo navio-tanque seja usado para transportar produtos petrolíferos russos embargados.
A polícia finlandesa acredita que o Eagle S pode ter arrastado sua âncora pelo leito marinho para causar o dano. Uma âncora foi supostamente recuperada ao longo da rota do Eagle S, a uma profundidade de até 80 metros, e fotos tiradas desde o incidente mostram o navio sem a âncora de bombordo. A polícia finlandesa disse ter identificado nove suspeitos na investigação criminal sobre os danos ao cabo.
A Estônia começou a realizar patrulhas navais para proteger um cabo submarino que fornece energia a partir da Finlândia, após a suposta sabotagem em dezembro passado
O dano ao cabo Estlink 2, que tem 170 quilômetros de comprimento, é o mais recente de uma série de incidentes em que cabos submarinos na região do Báltico foram danificados ou completamente rompidos desde a invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia, há três anos.
Após o incidente com o Estlink 2, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) prometeu aumentar sua presença militar no Mar Báltico, enquanto a Estônia enviou um navio de patrulha para proteger seu cabo de energia submarino Estlink 1. A União Europeia afirmou que o dano ao cabo submarino foi a "última de uma série de ataques suspeitos à infraestrutura essencial".
Cerca de 600 cabos submarinos transportam eletricidade e informação pelos oceanos e mares ao redor do mundo. Chegando à costa em locais que, muitas vezes, são sigilosos, estes cerca de 1,4 milhão de quilômetros de cabos nos permitem estar conectados. A maioria se destina a transmitir dados, sendo responsáveis por quase todo o nosso tráfego global de internet.
Os analistas dizem que sempre há a possibilidade de danos acidentais ou erro humano, mas a frequência destes incidentes levanta a questão: quão expostos estão estes cabos submarinos à sabotagem?
Não é preciso nem dizer, mas as relações entre a Rússia e a maior parte da Europa Ocidental estão complicadas no momento.
A tensão é palpável há anos, após eventos que incluem a insurgência apoiada pelo Kremlin no leste da Ucrânia, e a ocupação e anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
Em 2022, o Ocidente se uniu em repúdio quando 200 mil soldados russos invadiram a Ucrânia, desencadeando três anos de guerra, que deixaram cerca de um milhão de pessoas mortas ou feridas de ambos os lados.
A Otan acredita que a Rússia também está travando outra guerra, não declarada, a chamada "guerra híbrida", e que o alvo é a própria Europa Ocidental, com o objetivo de punir ou dissuadir as nações ocidentais de continuar seu apoio militar à Ucrânia.
A guerra híbrida acontece quando um Estado hostil realiza um ataque anônimo, e que pode ser negado, geralmente em circunstâncias altamente suspeitas. É suficiente para prejudicar o oponente, especialmente seus ativos de infraestrutura, mas não chega a ser considerado um ato de guerra.
A Otan acredita que a Rússia também está travando uma guerra não declarada, a chamada 'guerra híbrida'
"Os submarinos que descem a altas profundidades podem cortar cabos em profundidades que tornam os reparos extremamente difíceis", diz Sidharth Kaushal, pesquisador especializado em poder naval do think tank Royal United Services Institute (Rusi, na sigla em inglês), com sede em Londres.
"Eles também podem interceptar cabos submarinos sensíveis."
De acordo com Kaushal, em um conflito com a Otan, "os danos à infraestrutura no mar, além de infraestruturas em terra, seriam uma parte fundamental do esforço de guerra da Rússia, com o objetivo de minar gradualmente o apoio popular no Ocidente".
Outros exemplos de ataques suspeitos de guerra híbrida são a série de pacotes de encomendas "incendiárias" transportadas por empresas de serviços de entrega no Reino Unido, na Alemanha e na Polônia no ano passado. Os investigadores poloneses afirmaram que os incidentes foram simulações para sabotagem de voos para os EUA e o Canadá.
A Rússia nega estar por trás de atos de sabotagem, mas suspeita-se que esteja envolvida em outros ataques a armazéns e redes ferroviárias em países membros da União Europeia, inclusive na Suécia e na República Tcheca.
Esses incidentes estão levando alguns governos ocidentais a concluir que existe a possibilidade de a agência de inteligência militar da Rússia ter embarcado em uma campanha sistemática de ataques anônimos e secretos contra os países que ajudam a Ucrânia.
A ameaça foi levada tão a sério que a Otan e a União Europeia criaram, em 2017, o Centro Europeu de Excelência para Combater Ameaças Híbridas, com sede em Helsinque, capital da Finlândia.
A pesquisadora Camino Kavanagh, do Departamento de Estudos de Guerra da Universidade King's College London, no Reino Unido, diz que os Estados podem ser atraídos para este tipo de guerra porque "há muitas possibilidades de negação plausível".
Atualmente, grande parte do foco de países como o Reino Unido está em "negar essa negação, a partir de uma perspectiva operacional". Para a infraestrutura submarina, isso exige uma sólida compreensão do que está acontecendo em suas próprias águas, para que seja possível identificar atividades suspeitas.
"Essa atividade na zona cinzenta é algo muito, muito difícil de responder. Mas acho que, dados os últimos incidentes, os Estados estão melhorando", avalia Kavanagh.
As Forças Armadas russas têm o que Kaushal chama de "uma estrutura bastante hierarquizada".
Em águas mais rasas, ele afirma que a responsabilidade tende a recair sobre a Spetsnaz (Forças Especiais), a GRU (inteligência militar) e a Marinha russa.
Mas, em águas profundas, a tarefa de coletar informações de inteligência e realizar operações de sabotagem cabe principalmente à Diretoria de Pesquisa Submarina (Gugi, na sigla em russo), que responde diretamente ao Ministério da Defesa e ao próprio presidente Putin.
O rompimento de um cabo submarino na Finlândia provocou a ameaça de sanções da União Europeia contra a 'frota fantasma da Rússia'
A Gugi, diz Kaushal, usa navios na superfície para vigilância e coleta de informações, como mapear a localização de parques eólicos offshore ou os pontos em que os cabos chegam à costa.
Mas para operações submarinas, ele diz que eles usam "navios-mãe", na forma de antigos submarinos com mísseis balísticos nucleares e mísseis de cruzeiro, como o Belgorod.
"Os russos possuem uma ampla variedade de recursos, incluindo submarinos com casco de titânio, que podem operar em profundidades de milhares de metros, e que são equipados com braços para manipular objetos", acrescenta Kaushal.
Essas embarcações são operadas por uma tripulação de três pessoas, que costumam ser ex-oficiais da Marinha altamente experientes, que passam por um treinamento tão rigoroso quanto o dos cosmonautas.
Em profundidades como essas, é extremamente desafiador, até mesmo para a Marinha dos EUA, saber exatamente o que está sendo colocado no leito marinho ou o que esses submersíveis de águas profundas estão fazendo.
Em última análise, a possível sabotagem dos cabos deve ser vista "não apenas como um fenômeno isolado", mas como parte do "programa muito mais holístico da Rússia de visar infraestruturas de comunicação e infraestruturas essenciais em geral", afirma Keir Giles, especialista em Rússia do think tank britânico Chatham House e autor do livro Who Will Defend Europe? ("Quem vai defender a Europa?", em tradução livre).
O foco da Rússia nos cabos submarinos e nas telecomunicações é "parte de seu programa para garantir a superioridade da informação — o que também pode significar restrição à informação". Isso porque, se eles quiserem isolar comunidades em uma determinada parte do mundo, para que só recebam informações provenientes da Rússia, "isso é visto como um objetivo muito importante, porque foi fundamental na tomada da Crimeia".
Em novembro, o secretário de Defesa do Reino Unido, John Healey, acusou o navio de vigilância russo Yantar de 'vagar sobre a infraestrutura submarina crítica' do país
Certamente, as autoridades da Finlândia não estão sozinhas em suas suspeitas em relação à Rússia e sua interferência na infraestrutura de cabos submarinos.
Em novembro de 2024, o navio de vigilância russo Yantar foi visto "vagando sobre a infraestrutura submarina crítica do Reino Unido", de acordo com o secretário de Defesa britânico, John Healey.
Em janeiro de 2025, isso aparentemente aconteceu de novo, quando a Marinha britânica monitorava o Yantar, que, segundo o Ministério da Defesa, estava sendo usado "para coletar informações de inteligência e mapear a infraestrutura submarina do Reino Unido".
Healey descreveu o incidente como "outro exemplo da crescente agressão russa".
O Reino Unido tem cerca de 60 cabos submarinos que chegam à costa em vários pontos ao longo do seu litoral, concentrados especificamente no leste e sudoeste da ilha.
'Os submarinos que descem a altas profundidades podem cortar os cabos em profundidades que tornam os reparos extremamente difíceis', diz Kaushal
Se houvesse um ataque de qualquer escala à infraestrutura submarina do Reino Unido, ele provavelmente seria acompanhado por outros problemas nos sistemas do país, diz Giles.
A Embaixada da Rússia em Londres descreveu as alegações do Reino Unido em relação ao Yantar como "completamente infundadas".
E alegou que houve "um aumento da histeria anti-Rússia", que estava sendo usada pelo Reino Unido e seus aliados "para deliberadamente acirrar as tensões nas regiões do Báltico e do Mar do Norte".
Neste ano, o Comitê Conjunto sobre a Estratégia de Segurança Nacional do Reino Unido, que analisa as estruturas para a tomada de decisões governamentais sobre segurança nacional, lançou uma investigação sobre a vulnerabilidade do país a ataques a cabos submarinos.
"Os russos provavelmente já colocaram seus drones submarinos no fundo do mar, à espera de ordens que podem ou não vir, para realizar um ataque a cabos e dutos. O Yantar, seu navio de vigilância, vem fazendo sabe-se lá o que, no fundo do mar, há anos", diz Edward Lucas, especialista em Rússia.
Segundo ele, toda a rede global de cabos e dutos submarinos foi construída sobre uma base ingênua de confiança.
"Nunca pensamos que ela se tornaria alvo de um Estado hostil, mas agora estamos colhendo os frutos de décadas de complacência. Nossa única esperança é a dissuasão: mostrar aos russos que o custo de danificar nossa infraestrutura submarina seria doloroso demais para eles."
Kavanagh afirma, por sua vez, que o Reino Unido tem alguma resiliência incorporada em sua infraestrutura, porque "os reparos podem ser feitos muito, muito rapidamente".
Além disso, o design dos cabos submarinos foi baseado, pelo menos recentemente, na ideia de que "eles vão se romper em algum momento, então é preciso estar preparado".
Giles descreve como "muito tardia" a resposta dos países ocidentais ao reconhecerem o desafio. Mas diz que o corte de cabos individuais não teria hoje o mesmo impacto que teria quando a Rússia começou a pensar em fazer isso.
Isso acontece porque ter vários cabos que conectam os mesmos países usando rotas variadas, e garantir que o ecossistema de reparo seja resiliente, agora fazem parte do design, explica Kavanagh.
"Na verdade, é um grande alívio ver que muitos países estão agora concentrados em compreender suas próprias vulnerabilidades em termos de resiliência, trabalhando cada vez mais de perto com o setor."
Os movimentos do navio russo Yantar foram monitorados pela Marinha britânica
Embora a Rússia negue qualquer envolvimento, estes incidentes serviram como um alerta para os governos europeus de que esses cabos vitais estão desprotegidos, mesmo que seja fisicamente impossível proteger todos, em todas as profundidades.
"A ameaça sempre existiu. Só que, no contexto atual, os agentes da ameaça se sentem mais encorajados a realmente testar, explorar e ver o que funciona", explica Giles.
A guerra híbrida também serve como um exercício de aprendizado para a Rússia: "Eles veem qual é o impacto, também veem qual é a resposta do país alvo, a capacidade de investigar, processar, etc."
A longo prazo, a capacidade que a Rússia possui de operar no fundo do mar dá a opção, no caso quase impensável de uma guerra, de causar danos muito graves às economias da Europa e à vida cotidiana de seus cidadãos.
"E não se trata apenas de cabos submarinos, mas de todas as outras maneiras pelas quais a Rússia pode chegar a afetar pessoas, mesmo estando a uma grande distância", acrescenta Giles.
A Embaixada da Rússia em Londres alegou que houve 'um aumento na histeria anti-Rússia'
"São os ataques de sabotagem por meio de procuração (intermediários). São os ataques cibernéticos. É um ransomware em massa. É a colocação de dispositivos incendiários em aviões. E, por fim, é o potencial de ataques com mísseis a milhares de quilômetros de distância, sem guerra declarada e sem aviso prévio, porque é assim que a Rússia opera."
A forma como o Ocidente lida com a ameaça de sabotagem de cabos submarinos é apenas uma das muitas frentes em que está tentando lidar com a Rússia de Vladimir Putin.
A Meta anunciou que está abandonando o uso de checagem independente de fatos no Facebook e no Instagram, substituindo-os por "notas da comunidade", em um modelo semelhante ao do X, em que comentários sobre a precisão do conteúdo das postagens são deixados a cargo dos próprios usuários.
O anúncio despertou críticas de ativistas contra o discurso de ódio na internet, que dizem que o ambiente online ficará menos seguro com a mudança. Já outros elogiaram o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, por colocar fim à "censura" no Facebook e Instagram.
A decisão da Meta vale apenas nos Estados Unidos. A empresa ainda não anunciou nenhuma mudança na checagem de fake news em outros países, como o Brasil, mas avisou que isso vai acontecer no futuro.
Mas como funciona exatamente a checagem independente de fake news no Facebook e Instagram hoje?
A checagem de fake news em postagens não é feita por uma equipe da Meta. Ela é feita por agências credenciadas junto à Rede Internacional de Verificação de Fatos (em inglês, International Fact-Checking Network — ou IFCN), uma entidade não-partidária dedicada à checagem de fake news.
"Não achamos que uma empresa privada como a Meta deva decidir o que é verdadeiro ou falso, e é exatamente por isso que temos uma rede global de parceiros de verificação de fatos que revisam e classificam de forma independente potenciais desinformações no Facebook, Instagram e WhatsApp", diz um post de junho de 2021 do blog da Meta que explica como funciona o sistema.
"O trabalho deles nos permite agir e reduzir a disseminação de conteúdo problemático em nossos aplicativos", prossegue o texto.
A Rede Internacional de Verificação de Fatos (IFCN) foi criada pelo Instituto Poynter, uma organização sem fins lucrativos que diz ser dedicada à promoção do jornalismo imparcial e ético. A rede foi lançada em 2015 reunindo a comunidade de verificadores de fatos ao redor do mundo.
O Instituto Poynter é dono do jornal Tampa Bay Times, na Flórida, e concede prêmios a jornalistas americanos consagrados — como Tom Brokaw, Bob Woordward, Carl Bernstein, Anderson Cooper e Katie Couric.
Segundo a Meta, "todos os parceiros de verificação de fatos da Meta passam por um rigoroso processo de certificação com o IFCN".
Para ser um agente de verificação usado pela Meta, é preciso seguir critérios "como não partidarismo e equilíbrio, transparência de fontes, transparência de financiamento e organização, transparência de metodologia e política de correções aberta e honesta".
A aprovação é dada pelo IFCN. No Brasil, as agências certificadas pelo IFCN são a Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa e UOL Confere.
Nos EUA, há 13 agências certificadas: AP Fact Check, Check Your Fact, El Detector/Univision Noticias, FactCheck.org, Lead Stories, PolitiFact, Reuters, Snopes.com, T Verifica — Noticias Telemundo, The Dispatch, The Washington Post Fact Checker, USA Today e Wisconsin Watch.
A checagem acontece em três etapas:
1- Identificação de fake news: postagens com conteúdo potencialmente falso são identificadas por usuários e comunidades da Meta ou pelos próprios verificadores de fatos, que têm liberdade para isso. Inteligência artificial também é usada: máquinas identificam sinais como quais pessoas estão respondendo e quão rápido o conteúdo está se espalhando. A Meta redobra os esforços para identificação de conteúdo falso em grandes eventos como durante a pandemia, eleições, desastres naturais e conflitos.
2 - Revisão: os verificadores revisam e classificam a precisão das histórias por meio de relatórios, o que pode incluir entrevistas com fontes primárias, consulta de dados públicos e realização de análises de mídia, incluindo fotos e vídeos.
3- Ação: a Meta nunca remove nenhum conteúdo com base nessa checagem, nem bloqueia contas. Conteúdos só são removidos quando existe violação dos Padrões da Comunidade, que são as políticas de uso da plataforma e não têm ligação com o programa de verificação de fatos.
Os verificadores classificam fatos com falsos. Com base nisso, a Meta reduz significativamente a distribuição desse conteúdo para que menos pessoas o vejam. As pessoas que compartilharam esse conteúdo anteriormente ou tentam compartilhá-lo são notificadas de que a informação é falsa, e é colocado um rótulo de aviso com link para o relatório do verificador de fatos, refutando a alegação com o relatório original.
Mark Zuckerberg anunciou que vai encerrar o atual programa de verificação de fatos por agentes terceirizados nos Estados Unidos e vai a migrar para um programa de "notas da comunidade" — em que postagens com conteúdo falso são rotuladas com comentários feitos pela comunidade de usuários, e não por verificadores independentes terceirizados.
"Vimos essa abordagem funcionar no X, onde eles capacitam sua comunidade a decidir quando as postagens são potencialmente enganosas e precisam de mais contexto, e pessoas de diversas perspectivas decidem que tipo de contexto é útil para outros usuários verem", justificou a Meta.
"Assim como no X, as Notas da Comunidade exigirão acordo entre pessoas com diversas perspectivas para ajudar a evitar classificações tendenciosas. Pretendemos ser transparentes sobre como diferentes pontos de vista informam as notas exibidas em nossos aplicativos e estamos trabalhando na maneira certa de compartilhar essas informações."
Em julho de 2021, a Meta elogiava em seu blog os resultados do programa de checagem com verificadores terceirizados.
"Pesquisamos pessoas que viram essas telas de aviso [de postagem com conteúdo falso] na plataforma e descobrimos que 74% delas achavam que viam a quantidade certa ou estavam abertas a ver mais rótulos de informações falsas — com 63% das pessoas achando que eles eram aplicados de forma justa."
No entanto, nesta semana Mark Zuckerberg disse que o programa não está funcionando como proposto.
"A intenção do programa era que esses especialistas independentes dessem às pessoas mais informações sobre as coisas que elas veem online, particularmente boatos virais, para que pudessem julgar por si mesmas o que viam e liam", disse Joel Kaplan, chefe de Assuntos Globais da Meta, em postagem no blog da empresa.
"Não foi assim que as coisas aconteceram, especialmente nos Estados Unidos. Especialistas, como todos os outros, têm seus próprios preconceitos e perspectivas. Isso apareceu nas escolhas que alguns fizeram sobre quais fatos verificar e como."
"Com o tempo, acabamos com muito conteúdo sendo verificado que as pessoas entenderiam como discurso e debate político legítimos. Nosso sistema então anexou consequências reais na forma de rótulos intrusivos e distribuição reduzida. Um programa destinado a informar com muita frequência se tornou uma ferramenta para censurar."
Críticos de Zuckerberg, no entanto, dizem que a mudança foi feita para aproximar a Meta do governo de Donald Trump.
A decisão da Meta de abandonar o sistema de checagem foi criticada pelo Instituto Poynter, do IFCN, o parceiro responsável por indicar as agências terceirizada que hoje realizam a checagem de dados.
O Poynter publicou um artigo intitulado "Meta tentará verificação de fatos por crowdsourcing [colaboração coletiva]. Entenda por que isso não vai funcionar", escrito por Alex Mahadevan, que é diretor do projeto MediaWise, do Poynter, de alfabetização em mídia digital, que ensina pessoas de todas as idades a identificar informações falsas online.
"Eu não pensei que isso aconteceria tão cedo, mas os líderes da indústria de tecnologia estão de olho no sistema inovador e barato desde que o Twitter lançou o Birdwatch — agora o Community Notes do X — em 2021. Também tenho observado a plataforma e passei inúmeras horas vasculhando dados das Notas da Comunidade para determinar que a verificação de fatos de crowdsourcing, na forma proposta, não funciona", disse Mahadevan.
Ele lista três motivos.
1. O algoritmo usado para escolher quais "verificações de fatos" aparecem nas postagens requer concordância de "várias perspectivas". "Em um mundo hiperpolarizado, é quase impossível fazer com que dois lados concordem em qualquer coisa, muito menos em fatos que desmascarem a desinformação política", diz Mahadevan.
"No X, menos de 9% das notas propostas terminam com esse acordo. E muito, muito poucas delas abordam desinformação política e de saúde prejudicial. A escala prometida pela verificação de fatos de crowdsourcing é uma miragem.
2. Muitas Notas da Comunidade propostas e públicas ainda contêm desinformação, segundo o diretor da Poynter. "Minhas análises descobriram que os usuários são muito ruins em sinalizar postagens que são realmente verificáveis — em grande parte marcando opiniões ou previsões — e usam fontes tendenciosas, ou outras postagens X, para apoiar suas descobertas", diz.
3. O crowdsourcing como forma de checagem de fatos, embora promissor, ainda estaria em um estágio experimental.
"Uma análise que fiz com Alexios Mantzarlis, diretor da Security, Trust & Safety Initiative na Cornell Tech, mostrou que as Notas da Comunidade foram ineficazes no dia da eleição. É irresponsável lançar um produto como esse — 'nos próximos meses' — em plataformas tão grandes como o Facebook e o Instagram", afirma Mahadevan.
F - BBC News Brasil
Cientistas estudam uma maneira mais precisa de medir os segundos, o que pode revolucionar diversos processos, como a geolocalização por meio do GPS
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. BBC News Brasil
O tempo é vital para o funcionamento da nossa vida cotidiana: desde os relógios digitais nos nossos pulsos até os sistemas GPS dos nossos celulares.
Os sistemas de comunicação e navegação, as redes elétricas e as transações financeiras dependem da precisão do tempo.
E os segundos são as unidades vitais para medir o tempo.
Surpreendentemente, ainda há um debate sobre a definição do segundo, mas os avanços recentes nas formas mais precisas de medir o tempo podem ter mudado as regras do jogo.
A precisão na medição do tempo sempre fez parte da evolução social da humanidade. No monumento neolítico de Newgrange, na Irlanda, uma abertura especial acima de uma entrada permite que a luz solar ilumine o corredor e a câmara nos dias mais curtos do ano, por volta de 21 de dezembro, no solstício de inverno do hemisfério norte.
Há cerca de 2.300 anos, Aristóteles disse que "a revolução da esfera mais externa dos céus" deveria ser a referência para medir o tempo.
O filósofo grego acreditava que o cosmos estava organizado em esferas concêntricas, com a Terra no centro.
Ampulhetas de água, que surgiram por volta de 2.000 a.C. estão entre os instrumentos mais antigos para medir o tempo. Elas fazem isso regulando o fluxo de água para dentro ou para fora de um recipiente.
O relógio mecânico surgiu no final do século 13.
Até 1967, um segundo era definido como 1/86.400 de um dia, com 24 horas por dia, 60 minutos por hora e 60 segundos por minuto (24 x 60 x 60 = 86.400).
O Sistema Internacional de Unidades mudou as coisas e manteve esta definição:
O segundo… é definido tomando a… frequência de transição do átomo de césio-133, que é 9192631770 quando expressa na unidade Hz, que é igual a s⁻¹
Controlar o tempo era importante para o povo da Idade da Pedra que construiu Newgrange, na Irlanda
Se você está confuso, deixe-me explicar. O núcleo desta definição é algo chamado frequência de transição. Uma transição ocorre quando os elétrons em um átomo absorvem energia e passam para um nível de energia mais elevado, retornando a um estado relaxado após certo tempo.
É mais ou menos como beber uma xícara de café: de repente você tem mais energia, até que o efeito da cafeína passe. Frequência é o número esperado de vezes que uma transição ocorre durante um período específico de tempo.
Em cada segundo, uma transição específica de um elétron do césio-133 ocorre 9192631770 vezes. Este se tornou o critério para medir o tempo.
Até o momento, o césio fornece a definição mais precisa do segundo, mas pode ser melhorado com o uso de frequências mais altas.
Quanto maior a frequência de transição, menos um erro de leitura pode afetar a precisão geral. Se houvesse cinquenta transições por segundo, o preço em termos de precisão da contagem incorreta de uma delas seria cem vezes maior do que se houvesse 5.000.
Existem duas limitações para reduzir este erro: os desafios tecnológicos de medição de frequências, especialmente as mais altas, e a necessidade de encontrar um sistema (átomos de césio-133 para a segunda), com uma transição mensurável de alta frequência.
Para medir uma frequência desconhecida, os cientistas pegam um sinal de frequência conhecida (uma referência) e combinam-no com a frequência que desejam medir.
A diferença entre elas será um novo sinal com uma frequência pequena e fácil de medir: a frequência do batimento.
A precisão na medição do tempo tem sido fundamental na evolução social da humanidade
Os relógios atômicos usam essa técnica para medir a frequência de transição dos átomos com tanta precisão que se tornam padrões para definir o segundo.
Para alcançar tal precisão, os cientistas precisam de um sinal de referência confiável, obtido com algo chamado pente de frequência.
Um pente de frequência ou pente espectral usa lasers, emitidos em pulsos intermitentes. Esses raios contêm muitas ondas de luz diferentes, cujas frequências são igualmente espaçadas, como os dentes de um pente, daí o seu nome.
Nos relógios atômicos, um pente de frequência é usado para transferir energia para milhões de átomos simultaneamente, na esperança de que um dos dentes do pente pulse com a frequência de transição de um átomo.
Um pente de frequência cujos dentes são numerosos, finos e na faixa de frequência correta aumenta a probabilidade de isso acontecer. Portanto, eles são fundamentais para obter medições de alta precisão de um sinal de referência.
Como vimos, o segundo é definido pelas transições de elétrons nos átomos de césio. As transições que ocorrem com uma frequência mais baixa são mais fáceis de medir. Mas aquelas que ocorrem com frequência mais alta ajudam a aumentar a precisão da medição.
As transições de césio ocorrem aproximadamente na mesma frequência do espectro eletromagnético das microondas.
Essas frequências de microondas são mais baixas que as da luz visível. Mas em setembro de 2021, os cientistas fizeram medições utilizando o elemento estrôncio, cuja frequência de transição é superior à do césio e está dentro da faixa da luz visível.
O relógio atômico de césio fabricado pelo Laboratório Nacional de Física (NPL) em Teddington, Middlesex em 1955
Isso abre a possibilidade de redefinir o segundo até 2030.
Em setembro de 2024, cientistas americanos fizeram avanços importantes na construção de um relógio nuclear, um passo adiante de um relógio atômico.
Ao contrário do relógio atômico, a transição medida por este novo dispositivo ocorre no núcleo do átomo (daí o nome), conferindo-lhe uma frequência ainda mais elevada.
O átomo de tório-229, utilizado para este estudo, oferece uma transição nuclear que pode ser estimulada pela luz ultravioleta. A equipe que trabalha no relógio nuclear superou o desafio tecnológico de construir um pente que opera na faixa de frequência relativamente alta da luz ultravioleta.
Este foi um grande passo porque as transições nucleares normalmente só se tornam visíveis em frequências muito mais altas, como as da radiação gama. Mas ainda não conseguimos medir com precisão as transições na faixa gama.
A transição do átomo de tório tem uma frequência aproximadamente um milhão de vezes maior que a do átomo de césio.
Isso significa que, embora tenha sido medido com uma precisão inferior à do atual relógio de estrôncio de última geração, promete uma nova geração de relógios com definições de segundos muito mais precisas.
Medir o tempo até a décima nona casa decimal, como faziam os relógios nucleares, permitiria aos cientistas estudar processos muito rápidos.
Vamos pensar em dois corredores empatados em uma corrida com definição fotográfica. Se o cronômetro do árbitro tivesse alguns dígitos extras, eles poderiam identificar o vencedor sem a necessidade do recurso visual.
Da mesma forma, a relatividade geral é usada para estudar processos de alta velocidade que poderiam levar a sobreposições com a mecânica quântica. Um relógio nuclear nos proporcionará a tecnologia necessária para provar essas teorias.
A nível tecnológico, sistemas de posicionamento precisos, como o GPS, baseiam-se em cálculos complexos que requerem medições precisas do tempo que leva para um sinal sair de um dispositivo para um satélite e para outro dispositivo.
Uma melhor definição do segundo se traduzirá em um GPS muito mais preciso. O tempo do segundo de césio pode ter acabado, mas, para além dele, um mundo totalmente novo nos espera.
*Vittorio Aita é pesquisador associado do departamento de Física do King's College, em Londres.
Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original (em inglês).
A evolução dos computadores é um processo que teve início no século XVII, com o surgimento da primeira calculadora, e dura até os dias de hoje. Estando sempre em atualização.
A história dos computadores costuma ser divida em quatro gerações. Abordando a criação das primeiras calculadoras mecânicas até o uso em massa dos computadores pessoais, comuns na atualidade.
A primeira geração de computadores surgiu entre a década de 1940 e o final dos anos cinquenta, era composta por máquinas grandes e pesadas. Tratavam-se de calculadoras gigantes que conseguiam realizar cálculos em cerca de 5 segundos.
Os computadores da primeira geração usavam válvulas eletrônicas, diferente das calculadoras anteriores que usavam elementos mecânicos ou eletromecânicos.
O computador mais famoso da primeira geração foi o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Calculator), de 1943. O ENIAC conseguia realizar em 30 segundos cálculos que antes demoravam 12 horas. Pesava 30 toneladas e foi criado para calcular trajetórias táticas durante a II Guerra Mundial, porém só ficou operacional após o fim da guerra.
O investimento em inteligência artificial no Brasil, realizado por bancos e empresas estatais, já ultrapassou a marca de R$ 2 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). Com a implementação do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que prevê um total de R$ 23 bilhões até 2028, a expectativa é que esses números continuem a crescer. Desde 2020, os financiamentos têm mostrado um aumento significativo, com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) liderando os repasses. Somente em 2023 e até junho de 2024, a Finep já destinou R$ 1,4 bilhão para projetos de IA e planeja investir R$ 15 bilhões ao longo do plano do governo.
Imagina se você pudesse chegar em quase qualquer lugar do planeta em um piscar de olhos, sem mais filas longas de aeroportos, viagens demoradas de ônibus, ou enjoo de viajar de navio. Agora imagine poder viajar par qualquer lugar do universo em um tempo bastante curto. É essa a possibilidade que a dobra espacial parece permitir.
Boa parte das tecnologias dos quadrinhos e livros de ficção científica do passado hoje é realidade. Desde que Albert Einstein propôs sua Teoria da Relatividade Especial em 1905, cientistas passaram a lidar com as limitações impostas por um universo relativístico. Entre essas limitações está a crença de que a velocidade da luz é intransponível, ou seja, nenhum objeto, ou partícula pode viajar além da velocidade da luz.
Um software para drones alimentado por inteligência artificial promete revolucionar o trabalho de equipes que atuam em operações de busca e resgate em montanhas, sendo capaz de vasculhar áreas enormes muito mais rapidamente que o olho humano. Detalhes sobre o sistema foram revelados pela Wired na segunda-feira (7).
Criada pelos voluntários do British Mountain Rescue, Dan Roach e David Binks, a ferramenta de análise de imagens e pilotagem projetada para auxiliar drones a procurar pessoas desaparecidas automatiza o processo de três maneiras. Ela começa planejando rotas de voos mais eficientes para fotografar a área minuciosamente.
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